quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Autoritarismo Hermenêutico: eis um dos porquês de não aceitarmos a autoridade da Igreja Católica como Mestra



Nesta parte, falaremos sobre um assunto talvez não muito conhecido entre os irmãos, e certamente desconhecido de muitos católicos, que diz respeito aos conceitos católicos romanos sobre a interpretação bíblica, para o qual buscaremos expor a contradição gritante em que se encerram. Num artigo anterior, observamos a admissão das Escrituras sobre suas pontuais obscuridades, para a qual concluímos que, de fato, há trechos e porções difíceis de entender. No entanto, a Igreja Católica frisa esse aspecto das Escrituras a ponto de negar ao leigo o direito e a possibilidade de interpretar por si mesmo a Palavra de Deus.
"Como disse Martilho Lutero, o sacerdócio de todos os crentes (1 Pe 2:5) consiste na acessibilidade e possibilidade de a Bíblia ser entendida por todos os cristãos. Essa afirmação contrapunha-se à pretensa obscuridade da Bíblia sustentada pela Igreja Católica Romana, que asseverava que só a Igreja podia desvendar seu significado" (p.29).
Ao lermos esse trecho do 'Interpretação Bíblica' de Zuck, despertou-nos o interesse por dissertar, ainda que rapidamente, sobre o assunto.
Dessa maneira, para que não haja especulações de que fizemos uma má leitura da doutrina de Roma, apresentamos um parágrafo do Concílio de Trento:
"Decreta também com a finalidade de conter os ingênuos insolentes, que ninguém, confiando em sua própria sabedoria, se atreva a interpretar a Sagrada Escritura em coisas pertencentes à fé e aos costumes que visam a propagação da doutrina cristã, violando a Sagrada Escritura para apoiar suas opiniões, contra o sentido que lhe foi dado pela Santa Amada Igreja Católica, à qual é de exclusividade determinar o verdadeiro sentido e interpretação das Sagradas Letras; nem tampouco contra o unânime consentimento dos santos Padres, ainda que em nenhum tempo se venham dar ao conhecimento estas interpretações" (OS DECRETOS DO CONCÍLIO ECUMÊNICO DE TRENTO, Sessão IV, apud FERREIRA; MYATT, p. 97).
Diante disso, pode-se observar que somente à Igreja é permitida a interpretação da Bíblia. Bem como de que nenhuma pessoa pode violar o sentido das Escrituras para defender suas opiniões. Nesse ponto, concordamos, claro. Porém, não compactuamos com a visão deles de que violar as Escrituras seja discordar da Igreja Católica, ao invés de ser o faltar com as regras lógicas de interpretação.
Recorramos a Charles Hodge, com toda a sua maestria, a demonstrar a falácia deste princípio:
"Se o povo deve crer que as Escrituras ensinam certas doutrinas, então deve ter a evidência de que tais doutrinas são realmente ensinadas na Bíblia. Se tal evidência consiste em que a Igreja interprete os escritos sacros, então o povo deve saber o que é a Igreja, ou seja, qual dos corpos que reivindicam ser a Igreja, está autorizado a ser assim considerado. Como o povo, a massa sem instrução, determinará essa questão? O sacerdote lhe diz. Se o povo recebe seu testemunho nesse ponto, então como dizer-lhe como a Igreja interpreta as Escrituras? Aqui uma vez mais deve receber a palavra do sacerdote" (p.139).
Em síntese, a Igreja Católica quer provar por meio da Bíblia que ela é a Igreja verdadeira, que pode interpretar as Escrituras, e que a correta interpretação das Escrituras pode-se dar somente por ela. Alguém espera que a Igreja Católica vá pronunciar que interpretou as Escrituras e não encontrou apoio para sua reivindicação de ser ela a Igreja verdadeira, detentora do poder de dizer o significado das Escrituras? Essa é uma autêntica petição de princípio! Desapossar-nos do juízo privado para enjaular-nos em tal sistema é um suicídio intelectual. Fujamos disso!
Confessemos o que a Confissão de Fé de Westminster propõe no primeiro capítulo, seção VII: “Todas as coisas, por si mesmas, não são igualmente claras nas Escrituras, nem igualmente evidentes a todos; não obstante, aquelas coisas que precisam ser conhecidas, cridas e observadas para a salvação são tão claramente expostas e visíveis, em um ou outro lugar da Escritura, que não só os doutros, mas ainda os indoutos, no devido uso dos meios ordinários, podem alcançar um suficiente entendimento delas”
Aprendamos, pois, a interpretar a Bíblia por nós mesmos. Então, ao trabalho!

Para quem ainda não conhece a série de artigos que fizemos a respeito de dicas básicas para que se aprenda a ler a Bíblia, eis um sumário com os links para todos os artigos do gênero já postados:

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BIBLIOGRAFIA

FERREIRA, Franklin; MYATT, Alan. Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007, 1220p.
HODGE, Charles. Teologia Sistemática. Tradução de Valter Graciano Martins. São Paulo:EditoraHagnos, 2001. 1777p.
ZUCK, Roy B. A Interpretação da Bíblia. Tradução de Cesar de F. A. Bueno Vieira. São Paulo: Vida Nova, 1994, 360p.

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