quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Brasil, Holanda, União Ibérica e o Fim da Economia do Açúcar



Dom Sebastião, louvado rei lusitano, acabara rumando-se para a África e morrera numa batalha e 1578. O problema é que ele não tinha herdeiros, e o trono luso precisava ser ocupado. Um parente próximo, o cardeal Dom Henrique, assume o trono. Entretanto, Dom Henrique vem a falecer em 1580 e o trono fica vago. Felipe II, da Espanha, aproveita e se apossa do trono português.
Claro, não houve resistência. Aliás, como observa Woloski, os burgueses e comerciantes portugueses até almejavam tal união ibérica, visto que, com isso, participariam das empreitas econômicas na América-Latina, explorada pelos espanhóis. E, como se tal perspectiva não bastasse, continua o professor, ainda teriam a proteção da 'invencível armada', o exército naval mais poderoso do mundo, e que pertencia aos Espanhóis.
Assim, Woloski informa, em 1581 Felipe II assinou o Tratado de Tomar, e Portugal foi reconhecido não como colônia espanhola, mas como parte do reino unido da Espanha. Como Espanha e Portugal situam-se na Península Ibérica, temos, pois, essa união sendo denominada de União Ibérica.

Quais as consequências desse fenômeno político para o Brasil? Primeiramente, elimina-se o Tratado de Tordesilhas. Agora toda a América pertencia a um só país. Mas, de negativo, o professor Woloski observa que a Espanha não estava muito interessada na gestão do Brasil, e, agora, sem uma corte lusitana efetiva o país tinha sido entregado meio que à própria sorte. Tanto é que a economia do açúcar despencou. Pirataria e contrabando tornaram-se rotina. Del Priori e Venancio têm um exemplo interessante: "Entre 1602 e 1607, o oitavo governador do Brasil, d. Diogo Botelho, encontrou um tal descalabro na figura de funcionários que lesavam o fisco e exerciam tranquilo contrabando, que efetuou várias demissões na capitania de Pernambuco. A incompetência judicial que então se instalava iria somar-se à distância física entre o centro de decisões administrativas, Lisboa, e as cidades litorâneas brasileiras. [...] O braço da lei não atingia as áreas remotas. As próprias leis eram profusas e confusas. [...] A administração judiciária concentrava-se em algumas vilas e cidades, deixando o resto da Colônia nas mãos da justiça privada e do mandonismo local" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 42). A situação estava bagunçada, afirmam os autores, e cada Governador Geral vinha com um novo Regimento, e situação judicial tornara-se caótica.
A coisa estava tão feia que Woloski sugere que a invasão holandesa se deu, ou foi facilitada, justamente por conta desse desleixo espanhol para com o Brasil.

INVASÃO HOLANDESA

Precisamos fazer uma digressão. Fábio Costa nos lembra que a Holanda era colônia espanhola. Entretanto a Holanda já gozava de prestígio, e estava plenamente desenvolvida como nação. Dentre outras coisas, gozava de muitos benefícios com o comércio do açúcar brasileiro. Mas fora reivindicar independência justo quando a Espanha detinha a posse de Portugal e, com isso, de todas as suas colônias. O resultado, claro, foi um embargo comercial entre Holanda e Brasil. Renato Venancio e Mary del Priori ressaltam: "a empresa do açúcar era complexa e envolvia terras, técnicas e homens. No século XVII, ia de vento em popa. Isso tudo eera alvo de grande cobiça por parte dos holandeses. Sobretudo porque, durante a Unificação Ibérica (1580-1640), encontravam-se interditados de realizar negócios no Brasil. Afinal, a luta pela independência das Províncias Unidas [Holanda] era uma luta contra os Felipes espanhóis, o que, automaticamente, tornava os flamengos inimigos dos portugueses. Felipe II dera ordens expressas a respeito deste particular: 'Nenhuma nau, nem navio estrangeiro' poderia comerciar em portos do Reino ou das Conquistas sem licença expressa e assinada pelo rei. Se, durante anos, holandeses comerciaram em nosso litoral, alguns deles tendo se tornado senhores de engenhos [...] agora viam a possibilidade de tomar conta da empresa do açúcar como um todo. E isso sem ter que pagar tarifas ou licenças à Coroa portuguesa (ou espanhola, a partir de 1580) e passando, além do mais, a controlar o refino e o comércio colonial do produto" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 53).
Tal situação era prejudicial demais para a Holanda. Agora, como país independente, ela precisava de suas colônias para seguir no encalço das duas grandes potências da época, que agora eram uma só nação. Então os flamengos resolvem envolver-se na expansão marítima com duas empresas: a Companhia das Índias Orientais e a Companhia das Índias Ocidentais*. A segunda ruma para o Brasil para tentar uma colônia por aqui.
Segundo Boris Fausto, não era apenas o interesse no açúcar, mas também no controle do comércio de escravos, tanto que a invasão no nordeste brasileiro progredia em paralelo às invasões na costa africana. Era quase uma investida simultânea, nos dá a entender o historiador.
César faz a seguinte observação, que vale a pena ser mencionada: "A ocupação do Nordeste brasileiro fazia parte de uma guerra contra a Espanha, uma guerra chamada então de guerra religiosa, guerra justa e guerra mundial. [...] A guerra entre Holanda e Portugal terminou, como diz o historiador e pastor Frans Leonard Schalkwijk [uma das maiores autoridades brasileiras sobre o assunto], 'com uma vitória holandesa na Ásia, um empate na África e uma vitória portuguesa no Brasil'" (CÉSAR, p. 51).
Pelo açúcar e pelos escravos, aqui aportaram os holandeses em 1624, na Bahia. Dominando a terra, cobraram impostos e proibiram o catolicismo. Claro, sem o apoio dos nobres, fatigados pelos impostos, e da igreja, logo tinham o povo todo contra si, e, junto aos portugueses, esses criaram uma revolta e expulsaram os holandeses em 1625. A investida holandesa estava perdida! Muito recurso havia sido gasto nessa empreita e agora a Holanda voltava com o 'rabinho entre as patas'.
Mas algo espetacular aconteceu! Um navio carregado de ouro, espanhol, fora interceptado (em 1627, segundo Fábio Costa)! Ali a Holanda retomara os recursos para uma nova investida que vai acontecer em 1630. Dessa vez, em Pernambuco. E aqui obtiveram sucesso.

Fábio Costa nos conta sobre uma divisão em etapas da conquista flamenca. Na primeira etapa, de 1630 a 1637, temos a 'Conquista Rápida'. Antes de falar dela, precisamos observar uma subdivisão proposta por Venancio e del Priori, que, paradoxalmente é chamada de 'guerra lenta': "Entre 1630 e 1632, os flamengos ficaram à mercê da guerra lenta: uma guerra feita, de emboscas e assaltos, levados a termo por esquadrões compostos por negros, índios e soldados da terra, que os mantinham nas praças fortes do litoral, mas que deixavam os engenhos e a produção de açúcar fora de seu alcance" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 53-54). Bom, afora esses dois primeiros anos, temos a já mencionada 'conquista rápida'. Segundo Fábio Costa, os senhores de engenho não estavam satisfeitos com as destruições das lavouras e acharam interessante a proposta de empréstimo dos holandeses para o replantio. Logo contribuíram para que os holandeses se estabelecessem.
Se a Espanha não fez nada para ajudar? Até que fez, porém sem muita eficiência, como Venancio e del Priori nos mostram: "Enfraquecida pela Guerra de Trinta Anos (1618-48), que trava contar os protestantes, a Espanha, por meio do protegido de Felipe IV, o conde duque de Olivares enviou para a colônia minguados reforços. Lisboa pouco podia interferir, fazendo-se a resistência à custa e nas costas dos lusos-brasileiros" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 54).

A segunda fase é a da Acomodação, onde temos o governo de Maurício de Nassau, de 1637 a 1644. A propósito, Maurício de Nassau foi enviado pra cá justamente com o propósito de consolidar a dominação holandesa, como nos informam Venancio e del Priori: "Preocupados em consolidar o domínio da terra e reconstruir a economia, os dirigentes da Companhia das Índias Ocidentais enviam para cá João Maurício, conde de Nassau-Siegen, com o título de governador-geral do Brasil [1637], apressando-se em esmagar os últimos focos de resistência" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 54).
E como terá sido a administração de Nassau por aqui? O professor Fábio Costa, ciente das loas que se lhe tecem, resolve contrariar as informações da mainstream, e diz ter sido um momento de crise econômica devido aos conflitos religiosos e questões mercadológicas concernentes a importação de itens. Entretanto, não é o que os relatos nos dizem e aqui sentimos ter de discordar do professor Costa. Primeiramente, os engenhos abandonados foram logo ocupados: "Os vazios criados pelo abandono dos engenhos foram preenchidos por holandeses, judeus e luso-brasileiros, graças ao financiamento providenciado pela Companhia. Criou-se, assim, um grupo de novos proprietários interessados no sucesso da empreitada flamenga" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 55).
Woloski anda na mesma entoada para observar que ele pacificou os rebeldes insatisfeitos pela gestão luso-espanhola, mui conturbada e desleixada; propôs empréstimos para a recuperação das lavouras, angariando o favor dos senhores de engenho; promoveu melhorias urbanas e, por fim, promoveu, também, as artes, trazendo importantes artistas do renascimento holandês (Woloski cita Franz Post).

Outro item importante mencionado pelo professor Woloski é o fato de que Nassau concedeu liberdade religiosa, embora sendo protestante, permitindo o catolicismo.
O judaísmo também encontrava mais espaço por aqui, como informam Del Priori e Venancio: "os judeus que iriam se instalar em Pernambuco quando da invasão holandesa, de 1630 a 1654, encontraram melhores condiç~eos para exercer sua religiosidade" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 37), chegando a construir sinagoga! Adiante os autores deixam claro: "Nesse governo, a liberdade religiosa era para todos. Católicos eram livres para exercer seu culto e manter relações com a sede episcopal da Bahia. Sinagogas e escolas hebraicas funcionavam no Recife e foram as primeiras da América. O protestantismo, considerado a verdadeira religião, lutava para instalar-se no Brasil. A chave para sua compreensão era a subordinação de todos os aspectos da vida aos sagrados mandamentos. A formação de paróquias protestantes estendeu-se pela conquistas territoriais, com a catequese e o ensino ocupando muitos pregadores*" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 38). Claro, nesse aspecto, como era de se esperar, César é mais completo: "No Brasil holandês, dava-se muita importância à fé e à conduta dos fiéis. Era o reflexo da Reforma Protestante de 100 aos atrás e de um movimento mais recente conhecido como puritanismo holandês. A Bíblia era a norma credenti et agendi, isto é, norma de fé e comportamento. Era preciso tratar os escravos com mais humanidade, era preciso cuidar das viúvas e dos órfãos, era preciso proteger o meio ambiente, era preciso observar o domingo, era preciso conhecer de perto os dez mandamentos da lei de Deus, era preciso consolar os doentes, era preciso dar alguma liberdade de culto aos não-protestantes, era preciso controlar a taxa de juros, era preciso ter momentos de lazer (pois 'trabalhar demais era roubar a si mesmo'), era preciso aproximar-se da Mesa do Senhor prévia e devidamente preparado etc." (CÉSAR, p. 52). Esses fato não nos permite concordar de maneira alguma com Fábio Costa, que colocou como motivo para sua especulação sobre a existência de um fracasso econômico na Holanda Americana de Nassau os conflitos religiosos.
Nesse ínterim ministrava no Brasil o padre Antônio Vieira, sobre quem falaremos outrora. O professor Fabiano nos relata que em 1640 ele faz um belo sermão chamado “Sermão para o Bonsucesso das armas de Portugal contra as de Holanda”, conclamando os brasileiros a lutarem contra os Holandeses, dizendo que se estes dominassem o Brasil, as coisas ficariam muito ruins por aqui. Entretanto, mesmo ele, depois, veio a reconhecer a boa administração, inclusive pacífica, de Nassau no nordeste. De fato, Nassau foi figura mui carismática: "O período áureo do Brasil holandês, tanto para os holandeses como para os lusos-brasileiros, durou oito anos e está compreendido entre janeiro de 1637 e maio de 1644. Coincide com o governo do Conde João Maurício de Nassau-Siegen, membro e frequentador assíduo da Igreja Reformada. Quando Nassau se retirou, até os portugueses pediram a sua permanência. [...] Se ele tivesse ficado, talvez o Nordeste brasileiro viesse a falar holandês e a maioria da população se tornasse cristã reformada. Até o jesuíta padre Antonio Vieira era a favor do parecer que entregava Pernambuco aos holandeses" (CÉSAR, p. 51).

Antecipamos nosso próximo ponto. A próxima etapa foi a da retirada de Nassau e uma crise na colônia holandesa. Primeiramente temos que nos voltar para a Europa. Em 1640 temos a reivindicação de Portugal de independência. Rodrigo Woloski nota que os burgueses não viram, durante a União Ibérica, a prosperidade prometida pelos espanhóis que, por sua vez, cobravam altos impostos deles e isso lhes fez movimentar uma revolta. A partir daí, de 1640 a 1688 temos a Guerra da Restauração, onde os lusitanos limpam suas terras dos vestígios espanhóis. Mas já em 1640 temos o rompimento da União Ibérica. Segundo Fábio Costa, Portugal, em 1640, pediu ajuda para a Holanda para se livrar do domínio espanhol. Claro, a Holanda, em franca oposição à Espanha, aceitou. Principalmente porque Portugal prometeu, segundo Costa, que deixaria os flamengos livres no nordeste brasileiro. Entretanto, Portugal não cumpriu para com sua promessa. Logo, logo estavam financiando grupos para combater os holandeses em terras brasileiras.
Del Priori e Venancio ainda nos falam de uma crise no preço do açúcar que culminou em problemas na economia colonial: "O colapso do preço do açúcar na bolsa de mercadorias de Amsterdã entre 1642 e 1644 destruiu o otimismo que Nassau encorajara em sua verdejante Maurícia. Enquanto o recém-instalado governador-geral incentivava o financiamento e a melhoria dos engenho , estimulando, entre outros aspectos, a implementação de uma polítrica e livre comércio na qual a Companhia ficava restrita ao monopólio do pau-brasil, de escravos e de munição, na Europa, o açúcar se desvalorizava. Com [...] infernal cadeia de mazelas, seguiu-se a bancarrota. Em 1642, com Nassau ainda no comando, começaram a chover notícias sobre a ruína de comerciantes do Recife, ruína que empurrara para a falência grandes mercadores flamengos. [...] Para culminar, as ações da Companhia despencaram" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 55-56).
Então Nassau é convidado a partir: "em 1640, d. João IV assumira o trono e [..com a perda dos territórios no Oriente, o Brasil ganhava importância. Enquanto isso, na Holanda, insatisfeitos com as despesas e prejuízos, os diretores da Companhia exigiram o retorno de Nassau. Ele regressou em 1644" (DEL PRIORI, VENANCIO, p.56). A partir daí a coisa piorou cada vez mais. Woloski nos conta que os novos governadores da Companhia das Índias Ocidentais não seguiram as políticas de Nassau, e passaram a cobrar os empréstimos feitos, a cobrar impostos e a militar contra a liberdade religiosa."Em junho de 1645, um ano depois da retirada de Nassau, mais de 200 soldados holandeses e índios potiguares mataram o padre André de Soveral e outros setenta fiéis durante a missa dominical realizada na Capela Nossa Senhora das Candeias [...]. Três meses depois ocorreu outro martírio, desta vez a dezoito quilômetros de Natal [...]. Algumas dessas vítimas foram beatificadas pelo papa João Paulo II mais de 350 anos depois em março do ano 2000" (CÉSAR, p. 51-52). Claro, pois, a colônia foi ficando cada vez mais conturbada.
 As tropas organizadas dos portugueses, somados aos devedores aos holandeses que passaram para o lado deles organizava-se e acabara forçando os holandeses à guerra. "Encontraram pela frente soldados enfraquecidos pela partida de seu chefe militar, Nassau, e desestimulados pelo atraso no pagamento de soldos. Multiplicavam-se as deserções. A guerra foi declarada em 1646. Duas batalhas campais, em Guararapes,selaram, entre 1648 e 1649, o destino dos holandeses" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 56-57).

Para quem pensa que não podia piorar, veja isto. "Portugal resolveu intervir num momento em que os holandeses confrontavam a Inglaterra de Cromwell. Uma guerra iniciada em 1652 absorveria todas as forças, armas e esquadras das Províncias Unidas. Lá, não apenas discordâncias haviam enfraquecido a Companhia, como um grupo de burgueses interessados na via pacífica ocupava o governo. E percebera-se, com rapidez, que o Brasil ocupado era pior negócio do que enquanto colônica portuguesa. Através do comércio com Portugal, muito ainda se poderia lucrar" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 57). Logo, em 1654, o Recife está tomado de volta, contam-nos os historiadores.
Como é que a história terminou? Bom, a entre Inglaterra e Holanda vai terminar em 1660. Os conflitos entre os holandeses e portugueses acabam cessando também. E até que não ficou ruim para os flamengos: "A resolução do conflito passou por interferência inglesa. Recém-reconduzido ao trono, em 1660, Carlos II Stuart casou-se com Catarina de Bragança. O tratado de paz firmado com a Holanda, em Breda, deixava a totalidade do Brasil a Portugal, mediante largas concessões no Oriente, uma importante indenização e a possibilidade para os flamengos de seguir fazendo comércio nas costas brasileiras" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 57).

CONSEQUÊNCIAS DA UNIÃO IBÉRICA E INVASÕES HOLANDESAS

Schiavone nos conta que, os holandeses, expulsos, foram plantar cana de açúcar nas Antilhas. E, segundo Del Priori e Venancio, não foram só eles: "comerciantes judeus e agricultores holandeses transferiram para as Antilhas o conhecimento de técnicas agrícolas aprendidas no Brasil. A tendência foi acompanhada por franceses e ingleses, e a presença de um maior número de produtores no mercado mundial empurrou a economia da Colônia para uma grande crise" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 57-58).
 A coroa portuguesa retoma a produção açucareira, precipuamente a região mais rica, o nordeste açucareiro. Porém a crise continua pois o açúcar holandês é mais barato e melhor que o nosso(Woloski nos conta que os holandeses sabiam refinar o açúcar, ao passo que os luso-brasileiros, não) e é nosso concorrente direto. Além disso, salienta Costa, eram, antes, eles quem negociava e revendia na Europa. Portanto, até nisso estavam mais preparados. Pra piorar a situação, a condição das terras não estava das melhores, conforme Del Priori e Venancio: "As guerras do açúcar tiveram sérias consequências para o Nordeste.  Em curto prazo, deixaram ruínas. Colheitas destruídas, gado capturado, escravos aquilombados. Foram necessárias dezenas de anos para que Pernambuco voltasse a integrar a empresa do açúcar" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 57). Eles tinham um açúcar melhor; preços melhores; melhor 'departamento de venda'; terras em melhores condições... era óbvio que Portugal não podia mais depender do açúcar.

E a Igreja Reformada que os holandeses trouxeram? "Embora tenha desenvolvido um trabalho missionário principalmente entre os indígenas, a Igreja Reformada Holandesa se estabeleceu no Nordeste brasileiro não como resultado do anúncio do evangelho. Ela foi transpalntada para cá por ocasião da ocupação holandesa, em 1630, e desapareceu em seguida à expulsão dos invasores em 1654" (CÉSAR, p. 50).

 Assim, a coroa lusa busca uma nova fonte de riqueza, a exploração de um novo recurso a ser explorado. Surgem então, como exploradores, os Bandeirantes.Os bandeirantes eram aventureiros, e comerciavam escravos capturados e produtos exóticos. Receberam investimento para buscar o tão sonhado ouro brasileiro. Já no final do século XVII encontraram ouro na região central do Brasil, particularmente onde hoje chamamos de Minas Gerais. Há, assim, um deslocamento da economia do litoral para o centro do Brasil.

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*"Fundada em julho de 1621, a Companhia das Índias Ocidentais [...] era irmã mais nova da Companhia das Índias Orientais, nascida 19 anos antes. Um dos seus mentores [...] defendia a formação de colônias agropecuárias de evangélicos no Novo Mundo [...] a exemplo da sonhada Nova Genebra de João Calvino. Os holandeses já haviam fundado a Nova Armsterdam em 1614 e os peregrinos ingleses do Mayflower, a Nova Inglaterra em 1620, ambas ao norte de onde ficam hoje os Estados Unidos. Porque não fundar também a Nova Holanda aqui no Nordeste? [...] A companhia das Índias Ocidentais não era uma companhia religiosa e missionária, como a Companhia de Jesus [...]. Era uma companhia secular, com o propósito de enriquecer os seus sócios. Mas à semelhança dos navegadores e colonizadores dos países católicos (Espanha e Portugal), havia também propósitos acentuadamente religiosos e missionários" (CÉSAR, p. 50).
* Duas citações de César valem a pena ser mencionadas aqui. Dizem respeito às investidas protestantes no Brasil-Holandês. Primeiro, quanto às igrejas e ao número delas por aqui ele notifica-nos que, "por considerarem cristãos os templos católicos já existentes, os reformados quase não construíram templos em Recife e na zona ocupada. Usavam os templos católicos depois de retirarem deles as imagens, os altares e o paramentos sacerdotais. [...] Estima-se em 22 o número de igrejas no Brasil holandês, todas jurisdicionadas, a princípio, ao Presbitério de Amsterdam" (CÉSAR, p. 53).

Quanto ao trabalho evangelístico propriamente dito é interessante observar isto: "Pelos cálculos de Frans Leonard Schalkwijk, 17% do trabalho pastoral no Brasil holandês era dedicado aos indígenas. [...] A maior parte dos tupis havia sido cristianizada e batizada pelos jesuítas, mas eles geralmente 'não podiam dar a razão de sua fé nem o fundamento da sua salvação'. Os ministros reformados não os batizavam outra vez. Todavia exigiam dos adultos não batizados uma profissão de fé em Jesus Crisot antes do batismo" (CÉSAR, p. 54).

BIBLIOGRAFIA

CÉSAR, Elben M. Lenz. História da Evangelização do Brasil: dos jesuítas aos neopentecostais. Viçosa: Ultimato, 2000,  192p.

COSTA, Fábio. História do Brasil - Aula 1: Navegações Portuguesas e Período Pré-colonial. Acessado no dia 23/07/2014, em: https://www.youtube.com/watch?v=5tuK1c_51rw.

DEL PRIORI, Mary; VENANCIO, Renato. Uma Breve História do Brasil. São Paulo: Editora Planeta, 2010, 320p.

FAUSTO, Bóris. A História do Brasil por Bóris Fausto. Acessado no dia 23/07/2014 em: https://www.youtube.com/watch?v=pSyE82yRaKU

NARLOCH, Leandro. Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil. São Paulo: Leya, 2009, 320p.



SCHIAVONE, Alexandre. História - Aulo 1: Período Colonial Brasileiro. Acessado no dia 01/09/2014, em: https://www.youtube.com/watch?v=ouq9tU5DUOc&list=PL-5888xShjYp6bkqJ9Ro5Z6h_LH8P4kkm&index=2


WOLOSKI, Rodrigo. História do Brasil - Aula 2 Período Pré-Colonial. Acessado no dia 01/09/2014, em: https://www.youtube.com/watch?v=iP99XK83Kzk&list=PLF2J-8QoLzYG93_TqdDCoJnPspo0ds7q3&index=21

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