sexta-feira, 25 de julho de 2014

Vamos olhar mais de perto os fatos concernentes ao descobrimento do Brasil...

INTRODUÇÃO: POR QUE PORTUGAL?

Todo mundo, no Brasil, sabe (ou deveria saber) que fomos colonizados pelos portugueses. Alguns lamentam, e outros vêem vantagens nesse fato. Iremos opinar também, mas, antes, estudemos a história para fundamentar nossas opiniões, tornando-as posições. Pois bem, agora, é legítimo perguntarmos: por que não a Espanha? Ou Inglaterra... Holanda, França... Claro, não temos tempo e espaço, aqui, para uma dissertação completa sobre a história da Europa Medieval para que consigamos estabelecer perfeitamente as causas. Mas, mesmo que não se saiba muito sobre a história européia, há alguns detalhes que podem ser elencados.

POR QUE PORTUGAL FOI PIONEIRO NAS GRANDES NAVEGAÇÕES?

O historiador Boris Fausto aponta algumas razões para Portugal ser pioneiro nas grandes navegações. Talvez uma das mais importantes seja o fato de Portugal, desde muito cedo, ter se tornado uma monarquia centralizada, ou seja, em meio à descentralização do poder na Europa, ao famoso período feudal, os lusitanos têm, mais cedo que os outros países, os poderes centralizados nas mãos de um único rei, que a tudo administra. Tal fenômeno lhes angariou recursos suficientes para aventurarem-se pelos mares. Tanto o próprio Estado quanto os burgueses apoiavam a empreitada, completa Fábio Costa.
Portugal também aprendeu, com os genoveses, da Itália, que perambulavam a tempos pelo mediterrâneo, técnicas de navegação. Costa acrescenta a informação de que havia uma preparação teórica sobre o assunto, a famosa Escola de Sagres, o que indica que estudavam a questão, levando-a a sério.
Ainda outro fator óbvio, mas que pode passar despercebido, é a posição do país. Portugal estava de frente para o mar, para o Oceano Atlântico, e até mesmo as correntes marítimas lhe eram favoráveis.
Questão também determinante era a tecnologia naval dos portugueses. Inventaram seus engenheiros um navio rápido e muito eficiente: a caravela. "Pequenas - cerca de vinte metros de comprimento -, ágeis, capazes de avançar em zigue-zague contra o vento e dotadas de artilharia pesada, as caravelas eram consideradas os melhores veleiros a navegar em alto-mar" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 11). Foi em uma delas que Pedro Álvares Cabral veio, em grande expedição, ao Brasil.
O professor Fábio Costa também nota algo importante. Portugal tinha por característica básica o comércio. Não eram muito dados à produção. Antes, seu apanágio era justamente as transações comerciais. Isso é que os impeliu a decidirem-se por tomar o rumo dos mares desconhecidos do oeste.

O QUE MOTIVAVA PORTUGAL ÀS EXPEDIÇÕES?

E, falando nos motivos que levaram os portugueses às empreitadas no além-mar, Fausto deixa-os ainda mais claros: o ouro e as especiarias (pimenta, noz moscado, cravo, canela...). As especiarias eram importantes para disfarçar o mau gosto dos alimentos que, de forma muito comum, se estragavam (não havia meios tão eficazes como os de hoje para preservação dos alimentos). Eram, pois, produtos de valor alto no mercado. Fábio Costa nos conta que, até então, Portugal comprava especiarias dos italianos, que compravam dos árabes que, por sua vez, granjeavam na Índia. Entretanto, em dado momento, Portugal quer encurtar a distância, e então visa pegar por si mesmo as especiarias nas Índias.
Boris Fausto não elimina das motivações o desejo de aventura, de conhecer novas terras. Fantasiavam sobre o que haveria no novo mundo. Desde a Idade Média ficavam a imaginar, e não raro cogitavam lendas, sereias e afins. Mas Fábio Costa bem lembra, sem eliminar o espírito aventureiro, que os portugueses já não estavam muito crentes nessas histórias, o que lhes desobstruía muito os caminhos dos mares. O medo fora grandemente minorado. Estamos no Renascimento, e a 'crendice medieval' [misturada às boas reflexões filosóficas e teológicas elucubradas por uma elite intelectual que se confundia com os oficiais eclesiásticos] já estava sendo jogada no lixo.

É bom lembrar que o Brasil não foi o primeiro lugar que os portugueses foram. Em 1415 eles chegam ao norte da África, conforme informa o professor Fábio. Dali pra frente começam a explorar todo o litoral africano, intentando rodear o continente para chegar às índias. De 1415 a 1460 eles conquistam as Ilhas Atlânticas. Em 1488, Bartolomeu Dias cruza o Cabo das Tormentas, ao sul da África (o encontro entre o Oceano Atlântico e o Índico), que passa a ser chamado de Cabo da Boa Esperança. E, finalmente, em 1498, Vasco da Gama [notem que foi o SEGUNDO a passar o cabo... vice de novo] vai até Calicute, nas Índias. Quanto a isso, Del Priori e Venancio são mais uma vez bem úteis: "[Vasco da Gama] ao longo da viagem tomara contato com o mundo muçulmano da costa oriental da África, onde hábeis mercadores controlavam inteiramente o comércio. Comércio, diga-se, de escravos capturados no interior da África e conduzidos aos portos de Sofala e Zanzibar - o Zenju-Bar, ou seja, 'páis dos escravos' -e de tecidos de algodão e especiarias, notadamente gengibre e o cravo. O encontro entre o mundo europeu e o indiano deu-se, contudo, em Calicute, mercado dos produtos desejados pelos portugueses: gengibre de Dekan, canela do Ceilão, pimenta da Malásia, cravo das ilhas Molucas e todas as demais especiarias levadas por árabes para Istambul e margens do Mediterrâneo. Durante três meses, Vasco da Gama contabilizou algo em torno de 1500 embarcações árabes nos portos da Índia" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 13).

Finalmente, temos a expedição de 1500, liderada por Pedro Álvares Cabral, que vem 'descobrir' o Brasil. Precismos nos deter, um pouco, na discussão dessa descoberta. E, então, iremos falar sobre essa primeira impressão e afins.

FINALMENTE, O 'DESCOBRIMENTO' DO BRASIL

Mary Del Priori e Renato Venancio notam algo instigante. Lembremo-nos que em 1494 foi assinado o Tratado de Tordesilhas, que dividia os mares do oeste, o Oceano Atlântico, entre Portugal e Espanha (é claro que, algum tempo depois, outros países iriam entrar na empreitada, e o 'companheiro' de Península Ibérica de Portugal, Espanha, logo entrou no 'ramo' também). Eram terras já demarcadas. Dom Manuel I, então rei de Portugal, após a volta de Vasco da Gama e seus relatos sobre Calicute e seu rei, monta uma segunda expedição, pomposa e impressionante, para dobrar o rei, montar um vínculo comercial direto com ele. Essa era a expedição de Cabral. Queriam ir às Índias. Então os autores supra mencionados notam: "Tendo em vista a pressa de se retornar a Calicute, é de se estranhar que a frota de Cabral pudesse perder tempo 'explorando' zonas desconhecidas e já chanceladas, há seis anos, pelo Tratado de Tordesilhas. Tomar posse das terras demarcadas devia fazer parte dos planos da expedição. Por que outra razão uma das treze embarcações, a conduzida por Gaspar de Lemos, teria voltado a Lisboa, anunciando a 'descoberta', quando os olhos da cristandade ocidental estavam bem abertos sobre a primeira expedição a abrir oficialmente a Carreira das Índias?" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 17). Isso mesmo. Os autores defendem que não foi por acidente que Cabral chegou aqui. Permitam-nos uma nova citação extensa: "O afastamenteo para oeste, hoje sabemos, foi intencional, pois, desde as viagens de Diogo de Teive ao Norte da África, em cerca de 1452, sabia-se da existência de terras a noroeste dos Açores e da Madeira. [...] Uma carta veneziana de 1424 representou, por sua vez, um conjunto de ilhas atlânticas, ao sul e ao norte das Canárias - Antilias, Sanaases e Saya, Imana e Brasiz -, que passaram a figurar em outros mapas cada vez mais a ocidente da Europa. Datada de 1474, a célebre carta de Tocanelli, enderaçada ao príncipe d. João, ou a algum membro de sua futura Corte, o incentivava a buscar um caminho paras as Índias em viagem transatlântica, tomando rumo ocidental e baseando-se na existência de algumas das ilhas acima mencionadas. A região, aparentemente desconhecida pelos portugueses, era, tudo indica, conhecida de marienheiros franceses, como negociante e marinheiro Jean Cousin, provável visitante da embocadura do Amazonas em 1488, assim como dos espanhóis, Diogo de Lepe e Alonso de Hojeda, que teriam passado por trechos da costa norte brasileira antes de 1500" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 17). São evidências muito fortes de que eles já sabiam que havia algo por aqui.
O historiador Boris Fausto também alavanca a questão da discussão sobre o termo 'descobrimento'. Ainda que considerássemos o ano de 1500 como a descoberta de novas terras, ainda assim o termo não seria totalmente adequado, visto que já haviam moradores, que foram denominados pelos Europeus de Índios. Pensamos que seria viável falar sobre o descobrimento europeu do Brasil.

IMPRESSÕES DE AMBOS OS LADOS

Seja como for, chegaram os portugueses ao Brasil. E aqui, vale dissertar sobre a perspectiva dos portugueses, ante os indígenas; e sobre a perspectiva dos indígenas a respeito dos portugueses.

Quanto aos indígenas, Boris notava que eles certamente estranharam toda aquela roupa sobre o corpo. Além disso, Narloch nota que eles não haviam desenvolvido nenhum tipo de meio de transporte e, o que viram no horizonte "enormes ilhas de maderia, que eram na verdade canoas altas cheias de homens estranhos" (NARLOCH, p. 47).
Naturalmente, segue Fausto, os padres estavam já interessados na catequese (Del Priori e Venancio nos informam que missionários estavam na expedição, pois queriam evangelizar nas Índias) e logo ergueram uma cruz. "No dia 26 de abril, uma missa celebrada pelo franciscano Henrique Soares de Coimbra marcou os festejos do Domingo de Páscoa. Em 1º de maio, uma cruz foi plantada" (DEL PRIORI; VENANCIO, p. 18) e "no dia 1º de maio, sexta feira, para comemar a paixão de Cristo, frei Henrique celebrou a segunda missa, precedida de uma procissão, tendo à frente os estandartes da Ordem de Cristo. Participaram da cerimônia mais de mil portugueses e cerca de 150 nativos" (CÉSAR, p.20). Elben M. Lenz César ainda nos relata que Pero Vaz de Caminha, o escrivão da comitiva, a quem devemos o primeiro relato sobre o Brasil e o contato com os nativos, demandou que aquele povo fosse evangelizado, e completa: "O entusiasmo de Caminha pela evangelização dos indígenas assenta-se, em parte, numa impressão demasiadamente otimista e simplista que teve dos nativos por ocasião da segunda missa campal: os índios ajudaram a carregar a cruz para o local designado e imitaram os portugueses durante o ofício religioso, ajoelhando-se, pondo-se em pé, levantando as mãos para o alto e olhando atentamente para o celebrante. Para o escrivão da feitoria de Calicute, o peixe já estava quase na rede. Faltava apenas o clérigo para os batizar!" (CÉSAR, p. 23). O problema, como nos informa Élben é que, embora Gaspar de Lemos tenha levado a carta para Dom Manuel, o então rei de Portugal, não surtiu efeito e ficou arquivada. Somente cerca de 300 anos mais tarde é que o documento foi redescoberto. Mas também sugere que ela possa ter motivado a primeira leva de missionários em 1549, tema que voltaremos a abordar.

Claro, os portugueses, pomposos e vestidos, certamente tinham estranhamento para com a nudez indígena. Mas Del Priori e Venancio nos lembram que não era inteiramente uma novidade: "Que gente seria aquela? A nudez era novidade? Não. Portugueses estavam familiarizados com etíopes, com os quais se deparavam quando costeavam o litoral africano, eles também nus e portando mortíferas azagaias" (DEL PRIORI; VENANCIO, p. 19).

Bóris vai assumir ares de que os índios foram ultrajados pelos lusitanos, e Del Priori e Venancio não ficam atrás. Mas da perspectiva dos portugueses já temos que observar a realista perspectiva de Leandro Narloch: "Os portugueses não eram seres onipotentes que faziam o que quisessem nas praias brasileiras. Imagine só. Você viaja para o lugar mais desconhecido do mundo, que só algumas dúzias de pessoas do seu país visitaram. Há sobre o lugar relatos tenebrosos de selvagens guerreiros que falam uma língua estranha, andam nus e devoram seus inimigos - ao chegar, você percebe que isso é verdade. Seu grupo está em vinte ou trinta pessoas; eles, em milhares. Mesmo com espadas e arcabuzes, sua munição é limitada, o carregamento é demorado e não contém os milhares de flechas que eles possuem. Numa condição dessas, é provável que você sentisse medo ou pelo menos que preferisse evitar conflitos. Faria algumas concessões para que aquela multidão de pessoas estranhas não se irritasse" (NARLOCH, p. 33). É claro que já não chegaram 'mandando no pedaço', como Fausto nos faz querer entender. Portanto, os portugueses tiveram de apresentar-se humildes e agradáveis, ou então poderiam se dar muito mal. E já começamos a desmentir alguns conceitos consagrados... Narloch promete mais...


ANTES DOS PORTUGUESES: UM BACKGROUND DA SITUAÇÃO

O que os índios faziam antes dos portugueses chegarem? Há uma série de especulações. Os autores falam de milhares de anos atrás, e têm opiniões diversificadas. Preferimos, na ausência de registro ou documentos históricos, nos limitar a falar dos costumes que já haviam adquirido e do que parece mais palpável.
Bom, tinham uma cultura muito rudimentar. Del Priori e Venancio, típicos historiadores do politicamente correto, tentam dar ares de nobreza às produções culturais dos índios. "Na região Centro-Sul do Brasil, caçadores e coletores cruzavam campos, savanas e alagadiços em busca de peixes, carnívoros de médio porte e répteis, como o jacaré e o lagarto, base de sua alimentação. A presença de instrumentos capazes de modificar a consistência dos alimentos indica claramente as transformações que os grupos humanos impunham ao meio ambiente. Peças de pedra, côncavas ou convexas, funcionando como verdadeiros batedores-trituradores, mós e pilões, pontas de arpão e anzóis, feitos de ossos, evidenciam não apenas uma simples preocupação fisiológica, mas uma cultura em torno do alimento. [...] grupos horticultores começaram a plantar milho, algodão, amendoim e porongos - utilizados como cuias e cabaças. Esses primeiros horticultores criaram, também, uma cerâmica utilitária, pequena e escura, cuja função era o armazenamento. O início da domesticação de plantas e a relação com as espécies nativas [...] bem como a criação de instrumentos relacionados com o seu processamento [...] demonstram a existência de um sofisticado conhecimento sobre coleta e preparação de alimentos. Essa relação com o meio ambiente permitiu aos primeiros habitantes da 'terra dos papagaios' dispor de diferentes nichos ecológicos e desenvolver estratégias alimentares que tinham uma relação estreia com o mundo que os cercava. Mas os ancestrais das tribos tupis não eram apenas estômago. Eram extremamente sensíveis ao mundo cultural: esculturas de pedra e osso representando pássaros, mamíferos e homens constituem um catálogo apaixonante de suas criações artísticas. Nas grutas, a representação de animais - cada grupo tinha seu favorito [...] -, de formas geométricas ou de figuras humanas envolvidas em cenas familiares e sexuais indica o misto de fruição estética e investimento ritual em torno de imagens. Na execução dessas obras, não faltavam extremos cuidados: em Roraima, no interior das cavernas, usavam-se até andaimes para o acabamento das pinturas. No belíssimo conjunto rupestre do Lajedo de Soledade, no Rio Grande do Norte, imagens associadas a rituais propiciatórios para chuvas comprovam a maestria na preparação das tintas, evitando o escorrimento das cores" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 20-21). Aqui, particularmente, os autores estão falando de ancestrais mais distantes. Entretanto, as características dos seus descendentes não diferiu muito. Na verdade, não notamos qualquer progresso... os autores ainda mencionam as questões religiosas e sociais (questões familiares e afins). Coisas que já conhecemos: rituais; espíritos da natureza; caciques poligâmicos... De interessante na lista está os vínculos afetivos entre pais e filhos: "A forte ligação entre pais e filhos chamou a atenção dos europeus: 'são obedientíssimos a seus pais e mães e todos muito amáveis e aprazíveis'" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 22) e a divisão de tarefas segundo as competências dos gêneros e das idades: "Mulheres semeavam, plantavam e colhiam produtos agrícolas, coletavam frutas silvestres e maricos, fabricavam farinhas e óleo de palmeira, preparavam as raízes para a produção do cauim, fiavma algodão e teciam redes, cuidavam dos animais domésticos, e do corpo dos parentes, catando piolhos, deplilando-os, etc. Os homens derrubavam a mata e preparavam a terra para a horticultura, caçavam e pescava, construíam malocas, fabricavma canoas e armas, cortavam lenha  e protegiam mulheres e crianças" (DEL PRIORI, VENANCIO, p. 22-23).
Entretanto, ainda que não neguemos (se é que alguém o faz) que os índios tinham algum valor cultural, há muito que foi omitido pelos historiadores. Eles não falam das guerras que os índios estavam envolvidos, e também não destacam o óbvio: era uma cultura muitíssimo atrasada. Leandro Narloch, declaradamente subversivo, não furta-se de observar tudo isso: "Em 1500, quando os portugueses apareceram na praia, a nação tupi se espalhava de São Paulo ao Nordeste e à Amazônia, dividida em diversas tribos, como os tupiniquins e os tupinambás, que disputavam espaço travando guerras constantes entre si e com índios de outras famílias linguísticas. Não se sabe exatamente quantas pessoas viviam no atual território brasileiro - as estimativas variam muito de 1 milhão a 3,5 milhões de pessoas, divididas em mais de duzentas culturas. Ainda demoraria alguns séculos para essas tribos se reconhecerem na identidade única de índios, um conceito criado pelos europeus. Naquela época, um tupinambá achava um botocudo tão estrangeiro quanto um português. Guerreava contra um tupiniquim com o mesmo gosto com que devorava um jesuíta. Entre todos esses povos, a guerra não era só comum - também fazia parte do calendário das tribos, como um ritual que uma hora ou outra tinha de acontecer" (NARLOCH, p. 34-35). Tais observações, como veremos, são determinantes para que julguemos a questão indígena. Portanto, tomemos nota desse fenômeno.
Claro, alguém poderia criticar as fontes de Narloch. Ele, basicamente, apóia-se nos relatos dos padres jesuítas e de documentos de cronistas. Os segundos tinham de priorizar sua objetividade, e é meio difícil considerar que os jesuítas, que louvavam a não-usura dos indígenas, que tiveram vários conflitos com os gananciosos colonos, estivem fraudando seus relatos para agradar a burguesia...
Adiante Narloch é ainda mais elucidativo quanto às impressões dos índios. "A imagem divulgada do descobrimento do Brasil é aquela dos portugueses na praia, com as caravelas ao fundo, sendo recebidos por índios curiosos que brotam da floresta. Na verdade, houve um episódio que aconteceu antes: os índios subiram nas caravelas. [...] Provaram bolos, figo e mel (mas cuspiram as comidas com nojo), e ficaram espantadíssimos ao conhecer uma galinha. [...] naquela tarde de abril de 1500, os índios também fizeram sua descoberta. A chegada dos europeus revelou a eles um universo de tecnologias, plantas, animais e modos de pensar" (NARLOCH, p. 45). O autor descreve uma série de descobertas novas, como se passassem à idade do ferro de forma abrupta. Estavam fascinados com toda aquela avançada tecnologia. Anzóis para pescar; machados para facilitar o trabalho; animais domésticos; coco e banana... para não falar dos próprios navios, espetaculares! Leandro Narloch disse que não conheciam nem mesmo a roda! "Fizeram de tudo para conquistar a amizade dos novos [...] amigos. Antes que os brancos desembarcassem, subiram nos navios para conhecê-los. Na praia, deram presentes, estoques de mandioca e mulheres se ofereceram generosas. Devem ter achado urgente misturar-se com aquela cultura e se apoderar dos objetos diferentes que aqueles homens traziam [...] A história tradicional diz que os portugueses deram quinquilharias aos índios em troca de coisas muito mais valiosas, como pau-brasil e animais exóticos. Isso é achar que os índios eram completos idiotas. Aos seus olhos, nada poderia ser mais fascinantes que a cultura e os objetos dos visitantes. Não eram só quinquilharias que os portugueses ofereciam, mas riquezas e costumes [...]. Comprar aqueles artefatos com papagaios ou pau-brasil era um ótimo negócio" (NARLOCH, p. 48).

BIBLIOGRAFIA

CÉSAR, Elben M. Lenz. História da Evangelização do Brasil: dos jesuítas aos neopentecostais. Viçosa: Ultimato, 2000,  192p.
COSTA, Fábio. História do Brasil - Aula 1: Navegações Portuguesas e Período Pré-colonial. Acessado no dia 23/07/2014, em: https://www.youtube.com/watch?v=5tuK1c_51rw
DEL PRIORI, Mary; VENANCIO, Renato. Uma Breve História do Brasil. São Paulo: Editora Planeta, 2010, 320p.
FAUSTO, Bóris. A História do Brasil por Bóris Fausto. Acessado no dia 23/07/2014 em: https://www.youtube.com/watch?v=pSyE82yRaKU
NARLOCH, Leandro. Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil. São Paulo: Leya, 2009, 320p.




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